Guerra deixa milhões de crianças famintas e à beira da morte no Iêmen


No Iêmen, guerra deixa milhões de crianças famintas e à beira da morte

Crise foi agravada por disputa entre Arábia Saudita e houthis pelo controle do Porto de Hodeida, um dos mais importantes da região

A organização britânica Save the Children fez um alerta nesta quarta-feira (19) sobre a situação das crianças que vivem no Iêmen, no Oriente Médio. Segundo a organização, o número de crianças que sofrem com a fome no país pode chegar a 5 milhões se a coalizão dos estados árabes liderada pela Arábia Saudita continuar bloqueando as operações de um porto estratégico da região.

A CEO da Save the Children International, Helle Thorning-Schmidt, disse que há "milhões de crianças iêmenitas não sabem quando ou se sua próxima refeição virá"

Ela contou à CNN que visitou um hospital no norte do Iêmen e viu que os bebês estavam muito fracos até mesmo para chorar: "Seus corpos [estão] exaustos de fome."

Segundo publicou a CNN, na terça-feira (18), a coalizão lançou uma campanha para recuperar o controle do Porto de Hodeida, que está na mão do movimento político-religioso governista Ansar Allah, também chamado de Houthi. O nome significa partidários de Deus e o grupo é formado, principalmente, por muçulmanos xiitas, corrente contrária à que predomina na Arábia Saudita, país muçulmano sunita.

O Porto de Hodeida é um dos mais importantes da região, situado mo Mar Vermelho, é exportador de produtos como café, algodão, tâmaras e peles.

De acordo com a Save the Children, o fechamento temporário do porto está elevando muito o preço dos produtos, principalmente dos alimentos e do combustível. Isso pode fazer com que 1 milhão de crianças que não sofrem com a fome no país passem a sofrer, o que elevaria o total de crianças famintas no Iêmen a um total de 5 milhões.

Segundo a CEO da Save The Children, a situação se repete em outros hospitais do Iêmen, porque o que acontece no porto tem impacto direto na vida das crianças e famílias de todo o país.

"Mesmo a menor interrupção de chegada de alimentos, combustível e suprimentos de ajuda no porto pode significar a morte de centenas de milhares de crianças desnutridas, incapazes de obter a comida de que necessitam para continuar vivas", diz Helle Thorning-Schmidt, da Save The Children.

A ONU (Organização das Nações Unidas) também alertou para o risco de impedir a chegada de comida, combustível e ajuda pelo Porto de Hodeida. Segundo a organização, isso pode resultar em uma das piores crises de fome na história mundial.

Importante destacar que o país já sofre com a desvalorização da moeda e o colapso da economia. Os preços dos alimentos aumentaram em média 68% desde 2015.

O Rial do Iêmen (YER) desvalorizou quase 180% no mesmo período. O preço dos combustíveis, como gasolina, diesel e gás de cozinha aumentou 25% entre novembro do ano passado e setembro de 2018. Nos últimos dias, o conflito no porto fez com que os preços dos alimentos dobrassem, o que faz as famílias já pobre e famintas terem ainda menos acesso a comida.

Segundo a Seve the Children, mesmo que existam alimentos nas prateleiras dos supermercados, as famílias não podem pagar nem mesmo pelos itens mais básicos, como pão, leite ou ovos, o que torna ainda pior a situação que já era precária. Algumas pessoas contaram aos representantes da organização humanitária que precisam escolher entre levar um bebê desnutrido para o hospital ou alimentar os outros membros da família.

Um médico que trabalha para a Save the Children no Iêmen e preferiu não revelar o nome para proteger a própria vida, publicou no site da organização um depoimento onde fala que tem notado a deterioração da situação financeira das pessoas porque é muito comum que os pais não levem os filhos para os centros de saúde para receber tratamento porque não podem arcar com os custos de transporte.

"As pessoas não recebem salários há anos e não têm outra fonte de renda, então simplesmente não têm dinheiro para levar seus filhos ao hospital", contou um dos médicos que trabalha na Save The Children no Iêmen.

Uma recente pesquisa da ONU com 2.098 entrevistados em todo o Iêmen confirma a extensão do problema. Entre as famílias entrevistadas, 72% disseram que estão reduzindo o consumo de alimentos para lidar com a falta de renda. Pesquisas nutricionais realizadas durante o primeiro semestre de 2018 confirmam taxas alarmantes de desnutrição.

Em Hodeida, cidade onde fica o porto, 1 em cada 20 crianças menores de 5 anos sofre de desnutrição aguda severa. Metade de todas as crianças no Iêmen são raquíticas.

Fonte: R7

Postar um comentário

Distributed by Gooyaabi Templates | Designed by OddThemes