Aquecimento global pode deixar inviável o funcionamento do maior banco de sementes do planeta
Preservar a variedade de sementes do planeta é fundamental para a nossa sobrevivência. Foram milhares de anos desenvolvendo e selecionando as plantas para que pudessem nos servir de alimento, que poderia ser perdido caso uma catástrofe recaia sobre a Terra.
Para garantir a perpetuação da espécie, em junho de 2006, os governos da Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca e Islândia, em esforço conjunto com a Fundação Bill e Melinda Gates, deram início às construções do Silo Global de Sementes de Svalbard. Trata-se de um grande cofre para guardar e preservar espécies de sementes que podem servir como alimento para a população mundial.
Apelidada de “Arca do Fim do Mundo”, fica no Monte Spitsein, em Svalbard, território ártico da Noruega. O local foi criteriosamente escolhido, por se tratar de uma das regiões mais frias do planeta, funciona como um grande refrigerador natural com temperatura constante de -17ºC que mantém as sementes conservadas por mais de 200 anos sem grande gasto de energia.
Um exemplo da importância desse depósito com capacidade para mais de 3 bilhões de sementes aconteceu em 2015. Com a guerra da Síria, pesquisadores do país perderam acesso ao banco genético de plantas que ficava em Aleppo. Para dar sequência aos trabalhos, no mais pacífico Líbano, buscaram os exemplares perdidos na Arca.
E assim deveria funcionar pelas próximas centenas de anos. Se der ruim em algum canto do planeta, e a variabilidade genética das plantas que consumimos se perder, era só recuperar no banco de sementes. Mas parece que quem planejou banco se esqueceu que um tal de aquecimento global poderia atrapalhar os planos.
O primeiro sinal de problemas veio ainda e 2017. Um calor acima do normal na região derreteu parte do gelo que cercava o silo e causou o alagamento do túnel de 100 metros que dá acesso às sementes, que por sorte se mantiveram intactas. “Não estava em nossos planos pensar que o permafrost (o solo congelado do Ártico) não estaria mais lá e que o Banco experimentaria um clima extremo”, afirmou na época o membro do governo norueguês Hege Njaa Aschim.
Agora, um novo relatório do governo norueguês mostra que as coisas tendem a piorar, e a iniciativa que poderia salvar a humanidade em tempos difíceis que precisa ser salva. De acordo com os pesquisadores, a temperatura média em Svalbard aumentou 5ºC desde 1971 e, se a humanidade não parar de emitir gases de efeito estufa.
Como consequência, o gelo marinho que permeiam as ilhas está desaparecendo. Principalmente nos fiordes, a neve está caindo 20 dias menos do que costumava e medições do permafrost a 80 metros de profundidade mostram um aquecimento de 0,15ºC por ano desde 2009. Muita coisa para o sensível gelo do Ártico.
Dessa forma, se a humanidade continuar a emitir gases de efeito estufa como fazemos atualmente, mais 10ºC será acrescido à média da temperatura, desencadeando uma série de eventos que vai mudar completamente a configuração das ilhas.
As geleiras recuarão por 400 metros, e o permafrost se transformará em mingau e liberará dióxido de carbono e metano. Isso desestabilizaria a paisagem e, juntamente com mais chuva e menos cobertura de neve, provavelmente levaria a mais avalanches e deslizamentos de terra.
A preocupação é grande, tanto que o governo norueguês já liberou o investimento de 13 milhões de dólares para reformas que tornem a “arca do fim do mundo” mais resiliente frente as mudanças climáticas. Mas não existe milagre. Somente reduzir as emissões globais de carbono seria capaz de garantir a sobrevivência das sementes, e da humanidade, para além desse século.
Fonte: Galileu
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